Por Barbara Murayama*
Fumar na gravidez é um risco evitável, ao contrário de outros que a gente nem sempre consegue driblar, como o diabetes gestacional. E, entre os hábitos modificáveis, o tabagismo é o que mais traz riscos à gravidez. Segundo dados americanos de 2009, o hábito de fumar está associado a 5% das mortes infantis, a 10% dos nascimentos prematuros e a 30% dos casos de bebês nascidos pequenos para a idade gestacional. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), ocorrem cerca de 200 mil mortes por ano por causa do uso de tabaco.
Com relação às funções reprodutivas e à gravidez, o tabagismo - tanto ativo quanto passivo - aumenta o risco de infertilidade, de descolamento prematuro da placenta durante a gravidez, de rotura prematura da bolsa, de placenta prévia (ou baixa), gravidez ectópica (nas trompas) e aborto, entre outros resultados adversos.
Todas as mulheres grávidas devem ser questionadas sobre o uso de tabaco, mesmo antes de engravidar, quando se programa a gestação com o parceiro. A gravidez é uma oportunidade única para a intervenção médica. Mulheres que procuram o pré-natal devem ser avaliadas e receber reforço para abstinência a cada consulta.
A triagem é feita no consultório da obstetra, perguntando-se quantos cigarros se fuma por dia, mas é importante lembrar que não há níveis seguros para o consumo das substâncias presentes nesses produtos. O tabaco possui mais de 4.700 substâncias tóxicas, como monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído e partículas de nicotina e alcatrão.
Mulheres que fumam têm de uma a três vezes mais probabilidade de dar à luz bebês de baixo peso, e esse risco aumenta com o aumento do consumo de cigarros por dia - é considerado baixo peso ao nascer ter menos que 2.500 g. O risco de morte neonatal, isto é, em bebês com até 28 dias de vida, parece também ser maior em fumantes.
Apesar dos efeitos nocivos do tabagismo sobre a saúde das mães e do seu filho, estima-se que, nos Estados Unidos, 22% das mulheres em idade reprodutiva fumem. A prevalência é maior naquelas com idade inferior a 25 anos, índice escolar menor que 12 anos, solteiras e de baixa renda.
Substâncias tóxicas invadem a placenta
É preciso ficar claro que, quando uma mulher fuma durante a gravidez, o feto também fuma, pois recebe as substâncias tóxicas do cigarro através da placenta. Avaliações das placentas de fumantes têm mostrado mudanças estruturais deste órgão, que é responsável por levar o sangue com nutrientes e oxigênio para o bebê. Nas mulheres grávidas com tais alterações, essa entrega pode ficar dificultada.
Fumar pode resultar também em danos diretos ao material genético do feto. A nicotina provoca aumento do batimento cardíaco no feto, redução de peso no recém-nascido, menor estatura, além de alterações neurológicas importantes. Durante a amamentação, as substâncias tóxicas do cigarro são transmitidas para o bebê pelo leite materno.
Aliás, efeitos do fumo também estão associados a menores taxas de leite materno. E há relatos indicando que bebês de mães fumantes, quando alimentados logo após o fumo, dormiam menos do que quando essas mulheres não haviam fumado.
Já depois do nascimento, há outras doenças que são associadas ao tabagismo materno, tais como infecções respiratórias, otites, baixa estatura, hiperatividade, obesidade na infância e até diminuição do desempenho escolar.
Mulher não deve voltar a fumar
Não se pode esquecer, ainda, que a própria mãe continua exposta a riscos em relação ao cigarro, como, por exemplo, câncer de pulmão e outros. Recaída após o parto é um problema significativo, com até 90% de reincidentes no primeiro ano após ter dado à lua. Portanto, o acompanhamento médico dessas pacientes deve se manter.
*Barbara Murayama - Médica ginecologista e obstetra na capital paulista, é especialista em Histeroscopia e titulada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). CRM nº 112.527. Para saber mais: www.gergin.com.br e http://barbaramurayama.blogspot.com/
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